SESC Paulista apresenta “Novo poder: passabilidade” por Maxwell Alexandre 

Qual a importância de abordarmos o termo “passabilidade”, que vem crescendo no mundo contemporâneo? Maxwell e a museóloga Girlene Chagas explicam artística e historicamente esse tema.  

O conjunto de 56 obras da origem à exposição Novo Poder: passabilidade, por Maxwell Alexandre, em exposição na unidade SESC Paulista desde 19/04, permanecendo até 01/12. As pinturas retratam pessoas pretas e pardas, sem identidade explícita, de diversas classes sociais e estilos, transitando livremente pela sala expositiva, também conhecida como “cubo branco”. Dentre as mais de 50 obras, encontram-se personagens que vão desde estudantes do ensino público do Rio de Janeiro até figuras que se assemelham a artistas.  

Nessa exposição Maxwell cruza os conceitos de arte, moda e racialidade, instigando o público a refletir sobre passabilidade de pessoas melanizadas em ambientes culturais. 

Qual significado do termo passabilidade? 

Passabilidade é o termo utilizado quando uma pessoa se torna passável/percebida e aceita em um determinado grupo diferente do que lhe foi atribuído anteriormente, de acordo com os estereótipos socialmente impostos, sentindo-se segura em perpassar por locais em que esse grupo se movimenta. O conceito de passabilidade abrange diversos âmbitos, incluindo o racial, que é destacado por Maxwell.  

Quando falamos sobre passabilidade preta, principalmente no Brasil, há necessidade de também falar sobre a falta de pertencimento de pessoas melanizadas a ambiente frequentados majoritariamente por pessoas brancas, como os cubos brancos. 

Arte, moda e racialidade. 

Maxwell Alexandre baseia sua exposição nos estigmas deixados pelo contexto de formação social e acesso à arte.  

A produção artística e acessibilidade cultural foram construídas através de um olhar elitizado. O meio artístico atual carrega marcas de distinção sócio racial, que geram encarecimento das produções artísticas valorizadas pela visão mercadológica e das academias de arte. 

Ocupadas e lideradas por classes favorecidas economicamente, compostas majoritariamente por pessoas brancas, ditam a arte como um campo excludente às pessoas pretas e pardas, não apenas pela distinção econômica, mas também pela falta de pertencimento a esses ambientes. 

Maxwell faz o cruzamento entre arte, moda e racialidade, pintando personagens melanizados caminhando elegantemente, seguros e empoderados pelo cubo branco. O objetivo da exposição é instigar uma provocação sobre identidade, poder e passagem, criando uma atmosfera de dignidade e autoestima para essas pessoas, já que os meios da moda e artísticos estão diretamente ligados aos conceitos de beleza e estéticos.   

Além disso, as obras carregam um caráter impessoal propositalmente. Os personagens não carregam identificação e uma grande parte não tem seu rosto revelado, como forma de protesto ao racismo enraizado no cotidiano. A proposta é enfatizar que pessoas afrodescendentes também são pessoas comuns, que exercem inúmeros papeis sociais e pertencem a classes sociais diversas. A falta de identidade explícita carrega um exercício de imaginação que busca fazer com que o público fuja dos pensamentos estereotipados e conservadores, quase automáticos, que restringem pessoas pretas à origem periférica, cargos de baixa remuneração e baixa escolaridade. 

Entre construção social e silenciamento: museu é para quem? 

Espaços museais são ambientes estratégicos de poder, podendo exaltar ou silenciar grupos e acontecimentos históricos a partir das memórias que elegem. Moldam a construção social, ajudando a legitimar narrativas e até manipulá-las. 

“Sendo o museu um espaço estratégico de poder, que por meio das memórias que elege ajuda a moldar o futuro que teremos, é de fundamental importância que promova exposições e outras ações nas quais artistas negros são protagonistas e não meros coadjuvantes, como essa do Maxwell. […] Ainda que muitas e muitos artistas negros tenham se mantido e ganhado reconhecimento fora dos espaços museais institucionalizados e que o desprezo/menosprezo que grande parte de tais instituições destinaram à suas produções durante bastante tempo tenha feito com que passassem a questionar e até mesmo desdenhar e não querer estar neles, é preciso que ocupemos todos os espaços que nos foram negados e são nossos por direito.” explica a museóloga Girlene Chagas. No mesmo sentido, a museóloga afirma que esse reconhecimento é também essencial para a ampliação de repertórios e quebra de ciclos de apagamento histórico. 

“Considero importante frisar que não há favor nenhum nisso e que esse reconhecimento tardio, essa abertura, não é boa apenas para os artistas negros. É boa, e não somente boa, mas necessária, para artistas e públicos de todas as cores e etnias, que assim ampliam seus repertórios e mentalidades; e para os museus também, que desta forma se atualizam e têm maiores chances de se manterem relevantes no mundo contemporâneo, que cada vez mais não tolera os esquecimentos e apagamentos históricos muitas vezes perpetrados em seus espaços.” 

Em um contexto social em que os ideais eurocêntricos são dominantes, exposições como a Novo poder: passabilidade são importantes para fomentar a reflexão sobre pertencimento e inclusão de públicos de todas as cores e etnias em ambientes culturais. 

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