Esse texto não tem objetivo nenhum de trazer qualquer resposta, mas criar um ambiente de conforto e identificação (sinta meu abraço daí, caso esteja passando pelo mesmo).
Todos que estão entrando na casa dos 20, ou que já têm 20, estão sujeitos a essa crise. Todo mundo passa — eu juro, todo mundo mesmo —, mas por que ninguém comenta sobre? Por que ninguém nos oferece instruções de como lidar com tudo isso (ou ao menos tentar)?
Por ironia do destino, enquanto estou escrevendo — junto do meu mais fiel companheiro, o fone de ouvido —, minha playlist começou a tocar “Hey Jude”, dos Beatles. Acho que foi um sinal para iniciar essa conversa por uma das minhas principais queixas sobre essa crise:
Quero saborear todas as minhas versões, quero estudar tudo que o mundo me propõe. Quero financiar um apartamento hoje, mas também quero viajar o mundo e não pensar no amanhã. Eu queria tanto um emprego e conquistar independência… mas será que aguento o tranco da vida adulta?

Eu sei lá quem é Jude, mas eu o entendo.
A dor incessante de saber que eu poderia ser tudo, mas ainda não sou nada é cansativa. Eu não sou mais uma adolescente de 15 anos que ainda não se preocupa com as grandes responsabilidades, mas também não sou uma adulta que está a dois passos de construir uma família. Eu curso o que amo, mas ainda não tenho todos os conhecimentos que gostaria de ter. Eu mal saí debaixo das asas de minha mãe, mas já sinto que deveria estar conhecendo e vivendo muito mais do que estou hoje.
Eu quero carregar o mundo nos meus ombros, bem como Jude, mas não tenho forças para isso. Aqui se inicia a tão famosa “crise dos 20”.
Eu olho retratos antigos meus, de quando era criança. Que saudade. Minha maior preocupação era não ralar meu joelho de novo, porque não queria que minha mãe passasse aquele spray antisséptico que ardia muito — mas que sempre ajudava na cicatrização.

Então eu volto à realidade. Olho ao meu redor… todos parecem tão adultos, tão independentes e encaminhados. E eu… na minha cama, escrevendo um desabafo para o meu blog, enquanto escuto o top 10 músicas mais tristes do Frank Ocean.
Curioso, não? Mesmo desejando voltar no tempo e brincar pela última vez de “polícia e ladrão”, também quero crescer logo, ser uma grande profissional, saber declarar um imposto de renda ou comprar uma casa (coisas que só adultos de verdade fazem, sabe?). Eu quero ser igual a todos os outros, eles parecem tão mais avançados… O que eu faço de tão errado?
Ter 20 — ou estar quase lá — é basicamente isso: você quer ser adulto de verdade, mas não consegue achar uma maneira de se despedir dignamente da sua criança interior.
Será que devemos mesmo nos despedir daquela criança que ainda vive em nós?
Eu não sei a resposta. Essa eu deixo para você perguntar para sua terapeuta.
O que eu sei é que é difícil crescer sem manual de instruções. A confusão é cruel, mas e a comparação? Nem me fale…
Eu observo meu reflexo no espelho. Meus traços são delicados, de alguém que ainda não atingiu a maturidade.
Mas será que eu não deveria aparentar ser um pouco mais… madura?
Eu deveria me arrumar mais, passar mais confiança… mas não posso exagerar, senão ninguém me leva a sério. Como pode, uma menina tão nova com tanta autoridade?
Por que ela consegue e eu não?
Eu tentei tanto e não foi o suficiente… (pausa para o choro. Eu sei que você também chora quando as coisas não saem como o esperado)

Eu ficaria horas aqui pontuando todas as minhas queixas sobre esse período tão inconsistente da vida. Arrisco dizer que até o ser mais maléfico existente teme os pensamentos de uma menina que está passando pela crise dos 20…
Brincadeiras à parte, acho que consegui mensurar um pouco da maré de sentimentos que inunda o peito todos os dias, que oscila entre sufoco e êxtase. Afinal, eu posso ainda não ser nada, mas tenho plena consciência de que há um bilhão de oportunidades me esperando.
Como eu disse no início dos meus devaneios, não estou aqui para te trazer resposta alguma. Se mal conseguimos decifrar nossos sentimentos, imagina criar soluções instantâneas para eles? Somos humanos, sentimentais, mutáveis e complexos. Entender isso ameniza um pouco as coisas.
Esse texto é para você, que também está passando pela crise dos 20 e se sente sozinha. Eu prometo que não está. A gente se cobra muito, temos que seguir um padrão idealizado, temos que estar prontas para qualquer dificuldade e, infelizmente, quase nunca podemos chorar — porque, aparentemente, a vida adulta vem com um requisito inegociável: negar todo e qualquer sinal de vulnerabilidade.
Mas as coisas não precisam ser assim, pelo menos não para mim ou para você.
Que mal tem chorar vendo Irmão Urso, comendo um balde de pipoca? (isso foi um desabafo)
Ou que problema tem em planejar um futuro, traçar rotas, mesmo que ainda seja tudo meio incerto?
O que nos resta é abraçar o caos e ver até onde ele nos leva. Você pode não ser mais aquela menina que monta casa para as Barbies, assim como pode ainda não ser a mulher independente e profissional que sempre sonhou em ser, mas com certeza está no caminho.
E sabe? Tem um ponto positivo que ninguém nos conta sobre não sermos algo definido: se ainda não somos nada, podemos desfrutar do prazer de ser de tudo um pouco e, caso dê errado, tudo bem… é só mudar a rota. Não temos muito a perder mesmo.

Uma resposta para “I’m just a girl (entrando na “crise dos 20”)”
você é incrível ni, muito orgulhosa de você!
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